O câncer ainda é uma doença cercada de estigmas e tabus. Por mais evolução tecnológica e avanços que venham ocorrendo nas últimas décadas, ainda assim essa doença causa pavor, medo, sofrimento e, inevitavelmente, as pessoas ainda associam o câncer a morte.
Atualmente o câncer é compreendido como uma doença crônica e as possibilidades de tratamento e cura são muito maiores que anos atrás. Mas, ainda assim, precisamos estar sempre em busca de desmistificar a doença e seus tratamentos, pois um dos maiores causadores de sofrimento nas pessoas são as percepções, as crenças e os estigmas que se perpetuam por mais evolução que exista na área de diagnóstico, possibilidades de tratamento e reabilitação do câncer.
E, diante disso, quando uma pessoa se depara com o diagnóstico de câncer, há inúmeras reações emocionais e o impacto psicológico é sentido de forma muito intensa pela maioria dos pacientes e seus familiares.
E o medo é uma das emoções mais presente em todos os momentos, desde a investigação diagnóstica, durante o tratamento e até mesmo após o tratamento, pois grande parte dos pacientes relata o medo da doença voltar. Medo do sofrimento, medo da morte, medo da perda de autonomia, medo dos tratamentos propostos, medo dos efeitos da quimioterapia, medo da dor, medo do tratamento não funcionar, medo da cirurgia, medo do pós-operatório, medo da recidiva, medo de não conseguir voltar ao trabalho, medo de não conseguir se relacionar novamente. Medos, medos e mais medos! E vale lembrar que os familiares também sentem muitos medos e precisam de apoio nesse momento. Na oncologia consideramos o paciente e os familiares (rede de apoio) como um todo que precisa de atenção, assistência e cuidado, da mesma forma que o paciente.
Há algo para ajudar no controle da ansiedade e dos medos durante o tratamento?
Além da realização de atividades físicas, cultivar uma alimentação saudável, incluir atividades prazerosas na sua vida, o trabalho da respiração e a prática da meditação podem ajudar muito no combate a ansiedade.
Entre os inúmeros sintomas da ansiedade, está o descompasso da respiração, ou seja, quando uma pessoa se encontra ansiosa ou mesmo numa crise de ansiedade, a respiração costuma ficar ofegante, a pessoa passa a respirar curtinho e, dessa forma, a oxigenação do corpo todo fica prejudicada, o que acaba acentuando ainda mais os sintomas ansiosos!
Por isso falamos tanto sobre a importância do trabalho da respiração e da técnica da respiração diafragmática. E como é essa respiração? Pense, por exemplo, numa flor muito cheirosa, agora imagine que você está com essa flor na mão, está cheirando e sentindo seu perfume profundamente. Inspire sentindo seu delicioso aroma. Depois que você sentiu o cheiro da flor, imagine que na outra mão você tem uma vela e você vai tentar apagar essa vela, ou seja, vai expirar, soltar o ar pela boca lentamente, como se tivesse apagando essa vela, mas sem apagar. Pronto, essa respiração profunda é a respiração diafragmática que auxilia muito no controle da ansiedade. Orientamos muito essa prática, pois ela possui seus benefícios comprovados cientificamente.
De que forma podemos ajudar um paciente com câncer??
Acredito que existem alguns comportamentos e modos de agir que podem contribuir muito para ajudar alguém que está passando pelo tratamento oncológico. Vejamos algumas formas:
Lembre que a pessoa não deixou de ser uma pessoa! Ela continua tendo desejos, vontades e é capaz de decidir sobre sua própria vida! Ela não se tornou incapaz porque está com câncer!
Pergunte se você pode ajudar em algo e de que maneira. Às vezes o que você acha que a pessoa quer ou precisa nem sempre é o que ela deseja ou necessita no momento.
Entenda que ter momentos tristes e chorar fazem parte do processo de adoecimento. Altos e baixos e oscilações de humor são naturais. Não pense que só porque a pessoa está chorando ela está se entregando. Expressar emoções é natural e inclusive faz bem, lembre-se sempre disso! Permita que a pessoa expresse suas emoções e se permita expressar as suas também.
Ofereça apoio, mostre que se importa, seja afetivo! A pessoa que está em tratamento fica mais sensível, mais frágil e é importante que ela receba amor, carinho e sinta que as pessoas ao seu redor se importam com ela!
Lembre que há vida além do câncer! É importante falar de outras coisas, fazer outras atividades, como um passeio, algo que a pessoa goste e se sinta bem! Não é necessário ficar paralisado e viver apenas em função da doença e do tratamento!
Não obrigue a pessoa a comer o que ela não tem vontade ou não consegue! Entenda que o tratamento traz muitas mudanças e, muitas vezes, comer normalmente é algo que se torna muito difícil! Buscar orientações de um nutricionista oncológico será de grande auxílio!
É maravilhoso que você esteja junto da pessoa, cuidando e sendo apoio! Mas lembre-se que você também precisa se cuidar! Quem cuida também precisa de cuidado! Pra você estar bem para ajudar alguém, você precisa estar bem também! Cuide-se!
Lembre de viver um dia de cada vez! E ajude a pessoa em tratamento lembrar disso também! Ansiedade, medos e preocupações fazem parte, mas é preciso aprender a lidar com essas emoções para não tornar tudo ainda mais sofrido! Não há mal algum em buscar ou pedir ajuda, seja de amigos, familiares ou profissionais! Quanto mais apoio pacientes e familiares tiverem, melhor será para todos!
Não podemos esquecer que o paciente oncológico requer profissionais diferenciados e capacitados para fornecerem adequada assistência e tratamento. O paciente com câncer necessita de profissionais especialistas em oncologia, pois esta é uma área complexa em que é preciso atualização constante, muito comprometimento e amor pelo que se faz. E, dentre todas as especialidades, a Psico-Oncologia é extremamente necessária nesse contexto, pois como vimos no decorrer do artigo, o câncer traz muitas modificações e alterações físicas e emocionais na vida do paciente e de seus familiares.
E é diante desse cenário de angústia, sofrimento e incertezas que a Psico-Oncologia vai encontrar seu campo de trabalho. O objetivo maior da Psico-Oncologia é oferecer ao paciente e a família, apoio, suporte e acompanhamento em todas as etapas, desde a prevenção, diagnóstico, tratamento, cuidados paliativos e reabilitação. O psicólogo oncológico irá proporcionar um espaço de escuta e acolhimento, onde as questões emocionais do adoecer e suas repercussões poderão ser compartilhadas, sentidas, pensadas, trabalhadas e cuidadas.
Busque sempre profissionais capacitados e qualificados para ajudar a atravessar o processo de doença e tratamento. Você não precisa passar por esse momento sozinha(o).
Gláucia Flores, psicóloga oncológica
Referências:
BALSANELLI, A.C. S; GROSSI, S.A.A; HERTH, K. Avaliação da esperança em pacientes com doença crônica em familiares e cuidadores. Acta Paul Enferm, 24(3): 354-8, 2011.
CARVALHO, Vicente et al.Temas em Psico-Oncologia, São Paulo: Summus, 2008
COSTA. L.C.; NAKAMOTO. L.H.; ZENI. L.L. Psico-Oncologia em Discussão. São Paulo: Lemar, 2009.