Como acontece o tratamento de Câncer de Ovário?
Diversas modalidades terapêuticas podem ser oferecidas como forma de tratamento. O que definirá a escolha vai depender principalmente do tipo histológico do tumor, do estadiamento (a extensão da doença), da idade e condições clínicas da paciente, e se o tumor é inicial ou se recorrente.
É importante saber que se a doença for detectada no início – especialmente nas mulheres mais jovens – é possível remover somente o ovário afetado.
Alguns fatores podem ser decisivos na escolha do tipo de tratamento, como estado geral de saúde, se a paciente planeja ter filhos, além de outras considerações pessoais.
Em função das opções de tratamento definidas para cada paciente, a equipe médica deverá ser formada por especialistas, como cirurgião, oncologista e radioterapeuta (em raros casos). Mas, muitos outros poderão estar envolvidos durante o tratamento, como, ginecologistas, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais e psicólogos.
A quimioterapia
Ainda hoje é um dos tratamentos mais utilizados e mais eficientes no combate ao Câncer, principalmente em casos iniciais da doença. Ela pode ser definida como a utilização de substâncias químicas para poder destruir, inibir, controlar ou neutralizar o crescimento das células tumorais.
Quimioterapia é um tratamento que utiliza medicamentos as células doentes que formam um tumor. Dentro do corpo humano, cada medicamento age de maneira diferente. Por este motivo são utilizados vários tipos a cada vez que a paciente recebe o tratamento. Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se espalhem pelo corpo. O paciente pode receber a quimioterapia como tratamento único ou aliado a outros, como radioterapia e/ou cirurgia.
A forma e quais medicamentos serão utilizados para o tratamento dependem da equipe médica e da situação do paciente, podendo ser utilizada a combinações de vários medicamentos ou a aplicação deles separadamente.
Objetivos da quimioterapia em quatro grupos:
A combinação de medicamentos é suficiente para eliminar o tumor.
Realizada antes da cirurgia, quando o câncer está em locais de difícil acesso, como perto de artérias importantes. Reduz o tamanho do tumor e facilita a sua retirada.
Aplicada após uma cirurgia de remoção do tumor. A quimio remove células residuais que poderiam se espalhar para outros tecidos mais tarde.
Alguns tipos de câncer não podem ser retirados, ou insistem em reaparecer após cirurgias. A quimioterapia então é usada em intervalos regulares para controlar esses focos insistentes
A radioterapia
Pode ser é um método de tratamento local e/ou regional, pode ser indicada de forma exclusiva ou associada aos outros métodos terapêuticos. Também pode ser indicada antes, durante ou após a quimioterapia.
A radioterapia pode ser radical (ou curativa), ou quando se busca a cura total do tumor; remissiva, quando o objetivo é apensas a redução tumoral; profilática, quando se trata a doença em fase subclínica, isto é, não há volume tumoral presente, mas possíveis células neoplásicas dispersas; paliativa quando se busca a remissão de sintomas tais como dor intensa, sangramento e compressão de órgãos; a ablativa, quando se administra a radiação para suprimir a função de um órgão, como, por exemplo, o ovário, para se obter a castração actínica.
Ela é capaz de destruir células tumorais a partir de um feixe de radiações ionizantes. A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e a oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da radicação e o tempo total em que ela é administrada. A morte celular pode ocorrer então por variados mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua incapacidade de reprodução.
Objetivos das cirurgias
A histerectomia
É a cirurgia da área ginecológica que consiste na remoção do útero. A histerectomia é quando se retira o corpo e o colo do útero. Por vezes, esta cirurgia é acompanhada da remoção simultânea dos ovários e trompas. No caso da histerectomia total, ou completa, retira-se o útero em sua totalidade. Enquanto a subtotal, ou parcial, ocasiona a remoção, apenas, do corpo uterino, preserva-se então o colo do útero.
Cirurgia de Citorredução
O nome citorredução refere-se à cirurgia para a remoção dos ovários, útero e de todos os implantes (tumores) que foram identificados durante a cirurgia. São procedimentos complexos, que muitas vezes envolvem a ressecção de outros órgãos, onde quer que estes implantes estejam. Lembrando que a grande maioria dos tumores de ovário são identificados em estágios avançados e por esse motivo essas cirurgias costumam levar horas. Via de regra, são realizados via laparotomia (cirurgia aberta) que permite uma melhor remoção de todos os implantes.
A remoção completa de todos os tumores é um dos fatores que aumenta a sobrevida, ou seja, as pacientes vivem mais e melhor. Por esse motivo é importante procurar um médico ou centro especializado que seja dedicado ao tratamento do câncer de ovário.
Cirurgia primária ou de intervalo
Entenda esses conceitos:
– Cirurgia primária: quando o tratamento começa com a cirurgia;
– Cirurgia de intervalo: quando o tratamento começa com a quimioterapia, e a cirurgia é realizada após alguns ciclos;
A cirurgia primária ainda é preferível em relação a cirurgia de intervalo, desde que a paciente esteja em boas condições clínicas e que seja possível a remoção de todo tumor. Temos alguns estudos que demonstram que a quimioterapia neoadjuvante pode ser uma boa opção, principalmente para as pacientes com doença muito extensa ou aquelas que não estão em boas condições de saúde. Cada caso se apresenta de uma maneira, por isso a importância que um especialista avalie o tratamento mais adequado.
Remoção de linfonodos: um grande estudo indicou que a remoção de linfonodos não é necessária durante a cirurgia primária, desde que estes linfonodos estejam aparentemente normais. Com isso diminui-se o tempo cirúrgico e as complicações.
Hipec
HIPEC é a abreviação para a palavra em inglês
Hyperthermic IntraPEritoneal Chemotherapy.
Este procedimento é acompanhado de uma cirurgia que chamamos de citorredução, onde os implantes tumorais são removidos. A HIPEC só é realizada se a citorredução tiver sido bem-sucedida. Logo após o término da cirurgia, através de uma máquina de perfusão, os medicamentos da quimioterapia são aquecidos e aplicados diretamente no abdome para eliminar eventuais células cancerígenas microscópicas remanescentes.
Para o Câncer de Ovário os estudos com HIPEC foram/estão sendo realizados considerando principalmente os tipos de tumor seroso de alto grau e endometrióide.
Temos evidências científicas que a HIPEC provavelmente pode ajudar no tratamento do câncer de ovário durante a citorredução de intervalo, ou seja, naquela paciente que iniciou o tratamento com a quimioterapia e fará a cirurgia após algumas sessões, normalmente após o 3o. ou 4o ciclo.
Na cirurgia da recidiva provavelmente não tem benefício, por isso não temos indicação nessa situação.
Para indicar HIPEC durante a cirurgia primária devemos aguardar os resultados dos estudos em andamento.
Ou seja, a HIPEC pode fazer parte do tratamento em situações selecionadas, mas ainda temos como as principais opções a cirurgia, quimioterapia e mais recentemente os inibidores de Parp.
Citorredução secundária / Cirurgia na recidiva
O termo citorredução secundária se refere a uma cirurgia realizada quando a doença apresenta uma recidiva.
Uma segunda cirurgia (ou terceira, ou quarta, etc.) pode ser uma opção de tratamento em pacientes selecionadas, principalmente nas quais a ressecção completa de todo tumor é considerada provável. Os dois principais estudos que temos hoje apresentam resultados conflitantes e devemos selecionar muito bem aquelas pacientes que venham se beneficiar, que são as que apresentam doença localizada, as que tem um bom intervalo de tempo desde o término do primeiro tratamento até a recidiva e que estão com boas condições clínicas.
Inibidores de PARP
PARP é uma proteína (enzima) encontrada em nossas células do corpo, significa Poli – A DP Ribose Polimerase. Ela ajuda as células danificadas a se repararem.
Os inibidores de PARP são drogas (alvo) que vem mudando o curso da doença de ovário metastática. O uso dessa classe de medicação como terapia de manutenção em pacientes com Câncer de Ovário platino sensível recorrente aumentou significativamente a sobrevida livre de progressão. O medicamento age inibindo as enzimas PARP, que fazem parte da via onde o BRCA atua. Dessa forma, os inibidores de PARP atuam evitando a multiplicação e eliminado as células cancerosas. O bloqueio dessas enzimas permite que as células cancerígenas então morram. Esses inibidores são terapias direcionadas – pois têm como alvo as células cancerígenas e têm menos efeito nas células saudáveis do que a quimioterapia tradicional. Atualmente existem pelo menos quatro medicamentos desta linha: Olaparib, Rucaparibe, Niraparibe e Talazoparib
Fontes de pesquisa:
- Vergote I, Trope CG, Amant F, Kristensen GB, Ehlen T, Johnson N, et al. Neoadjuvant chemotherapy or primary surgery in stage IIIC or IV ovarian cancer. N Engl J Med 2010;363:943–53. doi: 10.1056/NEJMoa0908806
- Reuss A, du Bois A, Harter P, Fotopoulou C, Sehouli J, Aletti G, et al. TRUST: trial of radical upfront surgical therapy in advanced ovarian cancer (ENGOT ov33/AGO-OVAR OP7). Int J Gynecol Cancer 2019;29:1327–31. doi: 10.1136/ijgc-2019-000682
- Harter P, Sehouli J, Lorusso D, Reuss A, Vergote I, Marth C, et al. A randomized trial of lymphadenectomy in patients with advanced ovarian neoplasms. N Engl J Med 2019;380:822–32.
- Lopes A., Costa R.L.R., Di Paula R., et al. Cardiophrenic lymph node resection in cytoreduction for primary advanced or recurrent epithelial ovarian carcinoma: A cohort study. Int. J. Gynecol. Cancer. 2019;29:188–194. doi: 10.1136/ijgc-2018-000073.
- https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/noticias/inibidores-de-parp-estamos-vivendo-uma-mudanca-de-paradigma#:~:text=O%20medicamento%20age%20inibindo%20as,%2C%20Rucaparibe%2C%20Niraparibe%20e%20Talazoparib.